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Ananás dos Açores: é de Portugal!

09:00 horas, Mercado Municipal Duque de Bragança no centro histórico de Angra do Heroísmo.

Cheira a mar e cheira a terra. Logo, logo começa também a sentir os cheiros e até o sabor da fruta local. É grande a variedade, mas sobressai um aroma forte a ananás.

Não pude resistir e, mesmo antes de desatar a fazer perguntas, para documentar os registos fotográficos autorizados, saco de um canivete suíço e lanço-me a um ananás. Uma tarefa genuína com o sumo a correr pelas mãos.

Mais próximo é difícil: estar com quem sabe da produção, que nos vai esclarecendo, ao mesmo tempo que vai vendendo com o típico sotaque açoreano.

De denominação de origem protegida, o ananás dos Açores é produzido segundo técnicas de cultivo tradicionais, como confirma a etiqueta enrolada à volta de uma das folhas da coroa onde se exibe o número de série. O meu ananás era o nº 11596430.

Pronta a comer, a polpa do ananás também tem números, mas estes com outros interesses: números que conduzem a informações sólidas e facilitam as nossas decisões.

Uma rodela de ananás natural, por exemplo, ronda os 84 gramas e tem umas simpáticas 42 calorias.

O ananás é uma fruta rica em vitaminas B1 e B6, fibras e cobre, mas o seu forte é mesmo a vitamina C e o manganésio. E este mineral tem destinado, para si, algumas tarefas: a formação e a activação de algumas enzimas; o apoio no funcionamento cerebral, na estrutura óssea e no seu crescimento; a participação na síntese de ureia e glicose e no metabolismo das gorduras.

À vitamina C é hoje atribuído um enorme painel de capacidades terapêuticas. Vejamos! É necessária a sua presença para o desenvolvimento correcto dos tecidos conjuntivos – tendões, ligamentos, cartilagens, e contribui para a cicatrização das feridas. Reduz o dano oxidativo provocado pelas espécies muito reactivas de oxigénio (ROS- Reactive Oxygen Species), ajudando a proteger contra alguns tipos de cancro. A vitamina C está também envolvida na síntese de hormonas e neurotransmissores. Em conclusão, pode-se dizer que sem a vitamina C a evolução da espécie humana não teria acontecido.

No ananás podem também ser encontrados os seguintes fitoquímicos: β-caroteno, a miricetina e o ácido ferúlico.

A miricetina é o principal polifenol identificado nas fibras alimentares do ananás. Parece ser o responsável pela actividade antioxidante e antimutagénica, reparando e reduzindo directamente os danos no DNA, papel fundamental na prevenção do cancro. Entretanto, o ácido ferúlico pode desempenhar também um papel na defesa do organismo contra a carcinogénese, inibindo a formação de nitrosaminas. Se assim é e como alguns estudos indicam, pode contribuir para reduzir o risco de cancros como o do estômago, cólon, mama, próstata, fígado, pulmão e língua.

Depois de meio ananás e abastecida dos nutrientes acima referidos, continuei a caminhada rumo ao Museu de Angra do Heroísmo. Aqui as informações são outras com um conteúdo ímpar.

Ao aterrar na Ilha Terceira abrem-se outros paladares. A ilha toda forrada a verde de mil tons limpa a mente e aguça o olhar, tudo 100% português!

[fonte]Referências: Mandl, J., Szarka, A. and Bánhegyi, G. (2009), Vitamin C: update on physiology and pharmacology. British Journal of Pharmacology, 157: 1097–1110.; José A. Larrauri,, Pilar Rupérez, and, Fulgencio Saura Calixto (1997), Pineapple Shell as a Source of Dietary Fiber with Associated Polyphenol. Journal of Agricultural and Food Chemistry 45: 4028-4031.; Aherne SA, O’Brien NM.  (1999), Protection by the flavonoids myricetin, quercetin, and rutin against hydrogen peroxide-induced DNA damage in Caco-2 and Hep G2 cells. Nutr Cancer, 34:160-6.; Fu L, Xu BT, Xu XR, Qin XS, Gan RY, Li HB. (2010), Antioxidant capacities and total phenolic contents of 56 wild fruits from South China. Molecules, 15:8602-17.
Fonte da imagem: http://portuguese-american-journal.com/competition-international-azorean-pineapple-festival-ponta-delgada/[/fonte]

Este texto foi publicado pela primeira vez no Stop Cancer Portugal em julho de 2011.

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Margarida Vieira

Licenciada em Ciências da Nutrição pela Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto em 1991, especializou-se em Nutrição Clínica pelo Instituto Superior de Ciências da Saúde Egas Moniz e foi distinguida com o Prémio Danone em 2008.
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Margarida Vieira

Licenciada em Ciências da Nutrição pela Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto em 1991, especializou-se em Nutrição Clínica pelo Instituto Superior de Ciências da Saúde Egas Moniz e foi distinguida com o Prémio Danone em 2008.